Sou Alessandra Belo, estudante de Pedagogia da Universidade
Aberta do Brasil. O curso é ofertado pela Universidade Federal de Minas Gerais
e o pólo escolhido por mim foi Bom Despacho, que fica a três horas de ônibus de
Belo Horizonte. Escrevo esta carta para dividir com você um pouco da minha
história: a minha trajetória acadêmica.
Porém, antes
de começar a contar um pouco sobre mim, quero explicar que a adoção deste
formato não foi despropositada. Muito menos vem de uma escritora experiente. Sou apenas uma estudante de graduação que sabe escolher bem seus modelos. O deste
texto, uma carta, é inspirado no livro "Carta de uma orientadora: o
primeiro projeto de pesquisa",
escrito por Débora Diniz[1],
e envolveu-me tanto que pretendo adotar o modelo na tentativa de acolhê-la da
mesma forma.
Permita-me, também,
explicar-lhe o motivo de me referir à você no feminino: somos maioria na
docência, principalmente na Educação Infantil e nos Anos Iniciais do Ensino
Fundamental. Isso tem raízes históricas, que podem ser consultadas sob o nome
de "feminização do magistério".
Aproveito
para esclarecer que não sou "tia"
de nenhum estudante. Há quem diga que há coisas mais importantes para se
discutir na Educação do que a relação nominal "tia" existente entre professoras e estudantes. Discordo
profundamente, cara leitora. É justamente este pensamento — de que há coisas
mais importantes para se discutir na Educação do que a relação nominal "tia" para se referir às
professoras — que me faz ter a certeza de que estamos tratando aqui de relações
de poder e reproduzindo o preconceito de gênero contra nós, mulheres. Afinal de
contas, se há "coisas" mais importantes do que reconhecer
nosso profissionalismo na Educação, então, onde fica este reconhecimento e,
finalmente, onde ficamos nós, mulheres, como sujeitos históricos?
Você pode
estar se perguntando: "mas de onde essa tal de Alessandra
tirou isso?". De um livro escrito por Paulo Freire[2].
Inclusive, aproveitando a citação, quero começar a contar minha história
compartilhando como Paulo Freire foi meu primeiro referencial teórico, da área
da Educação, quando eu participava de um projeto de extensão na UFMG.
Foi assim: em
2003 ingressei no curso de Psicologia também na UFMG. Neste período, estava
bastante envolvida com a Academia e minhas disciplinas favoritas eram
Psicologia Social, Psicologia Política e Psicanálise. Estas disciplinas
permitiram que eu começasse a desenvolver uma visão mais crítica e politizada
da minha formação profissional e também da minha vida pessoal. A partir deste
percurso acadêmico pude compreender quais eram as implicações políticas do meu
gênero, classe social, raça, etc.
Durante o
ano de 2006 fiz estágio no Curso Intensivo de Mão-de-Obra Industrial (CIPMOI),
ofertado na Escola de Engenharia da UFMG. A participação neste projeto de extensão decisiva
para meu ingresso na Educação.
Foi tão
importante que vale dedicar boa parte desta carta para falar sobre o CIPMOI,
onde dei aulas de Comunicação e Relações
Humanas para grupos de eletricistas, pedreiros, soldadores e
mestres-de-obra. Eram, ao todo, 250 alunos. Foi o primeiro contato que tive com
trabalhadores industriais. Lembro-me, como se fosse hoje, do primeiro dia de
aula: todos os alunos entraram cabisbaixos na universidade, com muita vergonha.
Aquilo me tocou e eu comecei a acolhê-los dizendo que eram bem-vindos no curso,
cuja vaga tinham conquistado através de um longo processo seletivo. Além disso,
como universidade pública que é, a UFMG estava recebendo cidadãos pagadores de
impostos, que ajudavam a manter a própria universidade. Diante deste
acolhimento, estes alunos começaram a levantar suas cabeças e, a partir daí,
meu envolvimento foi cada vez maior: um vínculo havia sido criado naquele
momento. Comecei, então, a ler Paulo Freire. Do curso de Psicologia, utilizava
conhecimentos que tinha aprendido na Psicologia do Trabalho e na Psicologia
Política. Estes conhecimentos permitiam, cara leitora, que eu buscasse compreender
este universo até então desconhecido para mim. Conversando com meus alunos e
lendo os trabalhos que eles redigiam, percebi o quanto eles se esforçavam para
estudar à noite na UFMG. Fiquei sabendo, por exemplo, que muitos alunos
acordavam antes das 5:00 h da manhã porque começavam a trabalhar às 07:00 h no
canteiro de obras. Chegavam em casa por volta das 24:00 h diariamente. Não
raro, dormiam na sala de aula. Mas eu já entendia o motivo e nunca os acordava,
fazendo tudo o que podia para atender às demandas que iam aparecendo. Se você
trabalha com Educação de Jovens e Adultos, querida leitora, faça o mesmo! Deixe
seu aluno descansar um pouco depois de uma pesada jornada de trabalho. Se não
for assim, as dificuldades de acesso à Educação aumentam ainda mais para
estes trabalhadores.
Infelizmente,
mesmo com toda esta boa vontade, tinha dificuldades para lidar com a realidade
destes estudantes porque, como disse, era uma situação totalmente nova para
mim. Neste momento, pude contar com um dos professores mais importantes para
meu percurso acadêmico: o Prof. Antônio Augusto Moreira de Faria, da Faculdade
de Letras da UFMG. Ele me ajudou a desenvolver uma visão completamente
diferente sobre o trabalho humano e o uso da linguagem. Mostrou-me como a
linguagem é identitária e como a destituição do letramento — do mundo, como diria
Paulo Freire — é uma forma de manter as relações de poder. Outra experiência
significativa no CIPMOI foi a redação de uma Apostila para os alunos. Com a
ajuda do Prof. Antônio Augusto — sempre! — redigi a apostila com textos e
músicas que contextualizavam o dia-a-dia do operariado brasileiro, como, por
exemplo: Luto da Família Silva, de Rubem Braga; Setor de Montagem, de Edgard
Pereira; O Padeiro, de Rubem Braga; Construção, de Chico Buarque; Deus lhe
Pague, de Chico Buarque; Linha de Montagem, de Chico Buarque; Pedro Pedreiro,
de Chico Buarque; Vai Trabalhar Vagabundo, de Chico Buarque; O Açúcar, de
Ferreira Gullar; Navio Negreiro, de Castro Alves; Operários em Construção, de
Vinícius de Morais. O estágio no CIPMOI foi, portanto, um enorme desafio porque
eu fazia Psicologia e tinha um orientador da Faculdade de Letras. Mas eu
adorava e preparava os textos com muito carinho, o que me proporcionou o
contato com várias reflexões que até hoje são importantes para mim como
estudante, trabalhadora, mulher e cidadã.
Outro
momento formativo para mim no CIPMOI foi quando alguns alunos relataram que
tinham problemas no trabalho por causa da ilegibilidade da letra cursiva.
Começamos, então, a treinar caligrafia. O objetivo não era ter letra bonita,
mas aumentar a autoestima dos alunos, a partir do momento em que se
apropriassem da escrita como forma de comunicação. No trabalho, era comum terem
que preencher notas de serviço, recados ou notas fiscais. Então, diariamente
treinávamos das 17:00 h até o início das aulas. Muitos alunos desenvolveram uma
caligrafia melhor mesmo. E tive a oportunidade de saber, por exemplo, que um
aluno meu sofrera um acidente de trabalho que foi diagnosticado erroneamente
como outra doença e que, por isso, tinha problemas para escrever com a mão
direita. Sua precisão na escrita havia sido comprometida para sempre. Isso me
chamou a atenção porque estudava, justamente naquele período, o adoecimento no
trabalho. À luz de várias leituras acadêmicas, pude ver concretizada a
exploração da mão-de-obra de um trabalhador industrial, o que me sensibilizou ainda mais para as questões relacionadas ao trabalho humano.
Além das
atividades de caligrafia, trabalhávamos com os textos da Apostila. Durante este
trabalho, tive diversas oportunidades de aprender com os estudantes do CIPMOI.
Por exemplo, terminada a leitura do texto "O Padeiro", um aluno, de
aproximadamente 60 anos, falou "parece a minha filha, quando chego em
casa ela fala para a minha mulher ´não é ninguém não, mãe, é só o pai que está
chegando!'". E, também, de relacionar estes relatos com temas
estudados na universidade como, por exemplo, a invisibilidade social.
Até mesmo as
condições precárias[3]
dos laboratórios da universidade foram problematizadas pelos estudantes,
acredita? Lembro-me bem de um aluno que chamava o laboratório de sucatório, o que deixava muitos
monitores esbravejando. Este aluno, inclusive, tinha muita vontade de continuar
estudando também. Na época, enviou-me um e-mail dizendo que tinha passado no
Vestibular para cursar Direito em uma universidade da rede privada de ensino.
Até hoje eu tenho a curiosidade de saber se ele se formou, se gostou do curso,
se hoje é advogado.
A criação de
vínculos afetivos era comum e eu realmente gostava de estar com os estudantes
do CIPMOI. Uma vez, um aluno abandonou o curso. Telefonei para ele várias vezes
e ele, finalmente, retornou. Queria ter sido filósofo e lamentava a opção dos
filhos pela carreira militar: queria que os filhos fossem para a faculdade. Diferentemente
de outro aluno, que contava orgulhoso sobre a filha que estudava na
pós-graduação. Este aluno tinha trabalhado no Oriente Médio durante um ano mais
ou menos. Ele era soldador e contava várias situações diferentes e engraçadas
para a gente. Coisas sobre diferenças culturais, etc.
Em 2006,
quando estava no 6º período, engravidei e precisei escolher entre cuidar da
minha filha e concluir o curso. Optei por cuidar da minha filha. Quando fiquei
sabendo que estava grávida, minha vida virou "de pernas para o ar"
porque eu já estava no terceiro mês de gravidez. Morávamos em um apartamento
pequeno no centro da cidade e tínhamos que nos mudar. Querida leitora, aproveito
para compartilhar uma reflexão sobre esta situação maravilhosa que é a
gravidez. Como este momento é especial para nós, não é? Gerar uma vida é uma
sensação inexplicável e a relação que temos com o bebê, lá dentro da nossa barriga,
é uma sensação muito particular. É ou não é? Bom, diante das necessidades que
se apresentaram, meu marido e eu decidimos vender nosso apartamento e adquirir
outro. Como meu marido trabalhava o dia todo, precisei me dedicar a esta
tarefa. Mesmo com dedicação exclusiva para a gravidez e a mudança, mudei-me com
meu marido e minha filha no oitavo mês de gravidez! Foi um período muito
corrido e, por isso, precisei abandonar o estágio também.
Iara nasceu
e eu fiquei cuidando dela. Quando pude pensar em retomar os estudos, encontrei
outra barreira: o currículo da Psicologia havia sido modificado e o curso,
agora, era ofertado em horário integral. Além disso, fui informada de que não
estavam mais aceitando rematrícula de alunos do currículo antigo por falta de turmas.
Tive, então, que procurar outra alternativa para retomar os estudos. Veja como
são as coisas, você que me acompanha até aqui: a escolha por substituir um curso
ofertado em dois turnos por um curso ofertado o dia inteiro dificultava o
acesso, uma vez que sua frequência passou a demandar dedicação exclusiva. Ou
seja, a reforma curricular da Psicologia dificultou o acesso à Universidade.
Não deveria ser o contrário?
Mas, como
diz o ditado: “não adianta chorar o leite
derramado”. Então, como eu gostei muito da experiência da docência no
CIPMOI, eu optei por retomar os estudos cursando Pedagogia. Escolhi, agora, um
curso presencial em outra universidade. Foi uma decepção e, depois de dois anos
e meio, decidi abandoná-lo. Uma das razões para isso era a falta de integridade
acadêmica dos alunos deste curso: trabalhos plagiados, colegas colocando nome
de outros colegas que não tinham feito absolutamente nada, o que comprometia
muito a qualidade da formação dos estudantes. Outra razão era conviver com um
preconceito muito grande contra debates acadêmicos sobre política, gênero,
desigualdade social, etc. Ou seja, a formação do sujeito autônomo, pensante,
que a UFMG tanto prezava, era desprezada nesta instituição. Neste período, eu
me envolvi intensamente com Movimentos Sociais e fiz um curso no Projeto
Educação Sem Homofobia ofertado pelo Núcleo de Direitos Humanos e CidadaniaLGBT da UFMG (Nuh-UFMG).
Acredito que tenha sido a forma de lidar com minhas raízes, de retomar meus valores, de buscar espaços onde eu me sentisse mais à vontade. O resultado disso foi enfrentar um enorme preconceito na universidade. Havia pessoas que não conversavam comigo. Outras falavam em alto e bom tom: "política não se discute". Foi uma convivência que se tornou bastante desanimadora porque tudo o que eu acreditava era muito desvalorizado naquele ambiente, então até eu comecei a questionar vários paradigmas: se eu realmente gostava de política, de movimentos sociais, de direitos humanos. Comecei a questionar meus valores na época, o que foi positivo porque hoje tenho certeza de que a Educação tem como fim em si mesma a emancipação dos sujeitos.
Mesmo assim, diante de tantas dificuldades, quando
saí senti-me muito triste. A sensação que eu tinha era de uma enorme perda de
tempo. Comecei a pensar: "será que estou errada?", "será que eu
deveria ter sido conivente com o que eu vi?", "será que a qualidade
que eu busco é a correta?". Foi então que eu comecei a pesquisar a
integridade acadêmica, mais especificamente o plágio acadêmico, que foi um
problema sério que tive no meu Projeto de Pesquisa com uma colega que plagiava
páginas inteiras e colocava no nosso Projeto. Como a monografia era,
obrigatoriamente, em grupo, eu não conseguia me livrar desta colega e a
situação tomou uma dimensão que me fez repensar se era aquilo mesmo que eu
queria. Quando comecei a pesquisar o plágio acadêmico eu tive, finalmente, a
certeza de que tinha feito a escolha certa.
A partir
desta pesquisa, comecei a redigir um blog
chamado "Foi Plágio". Como parte deste
comprometimento com a integridade acadêmica, comecei a me corresponder com
outras pessoas interessadas pelo assunto. E foi neste contexto que tive a
oportunidade de escrever um texto. Mas... Um texto sobre plágio? Fiquei
morrendo de medo, não daria conta. Procurei então uma pesquisadora que tem
vários textos sobre o assunto e ela me encaminhou para Ana Terra Mejia
Munhoz. Foi o meu primeiro texto colaborativo, eu fiquei muito feliz e
tive a oportunidade de escrever em parceria com uma pesquisadora de renome.
Nunca imaginei que isso aconteceria! O texto foi intitulado "Educação, Escrita e Combateao Plágio" e foi publicado no site da ALAB - Associação de Linguística Aplicada do Brasil.
Durante este período em que não estava vinculada à UFMG como estudante, meu contato foi mantido através do Projeto "Pensar a Educação, Pensar o Brasil". Semanalmente é apresentado um programa de rádio que costumava ouvir e participar. Foi uma forma de manter laços com a UFMG mesmo não estando matriculada em nenhum curso na Instituição.
Durante este período em que não estava vinculada à UFMG como estudante, meu contato foi mantido através do Projeto "Pensar a Educação, Pensar o Brasil". Semanalmente é apresentado um programa de rádio que costumava ouvir e participar. Foi uma forma de manter laços com a UFMG mesmo não estando matriculada em nenhum curso na Instituição.
Mas, e agora? Eu ainda queria estudar. Eu queria ter uma profissão. Os estudos de Psicologia do Trabalho me ensinaram que a profissão é um fator identitário e eu me sentia mesmo sem uma identidade. Eu era mãe, esposa, dona de casa, mas não tinha uma profissão. Isso me fazia muita falta. O tempo já estava passando e eu, com quase 40 anos, ainda não tinha me formado. Isso começou a me estimular a buscar um curso novamente. E lá fui eu de novo. Comecei a procurar por cursos EaD. Via muitos professores da UFMG falando bem da EaD. Eu não fazia a menor ideia de como funcionava um curso superior à distância. Mas, diante dos relatos positivos e do meu desejo de retomar os estudos, fiz o Enem em 2011 e ingressei na UFMG em 2012 novamente.
Quando
cheguei em Bom Despacho gostei muito da turma, das tutoras e logo me adaptei ao
curso, à modalidade à distância, ao material utilizado. Enfim, senti-me
novamente parte de algo, de um grupo. Estava de volta à boa e velha UFMG, minha
universidade do coração.
Atualmente,
estou no quinto período do curso. O material que utilizamos é excelente,
o pólo é muito bem administrado e a turma é ótima. De acordo com o próprio
relato de várias colegas, muitas não tiveram a oportunidade de estudar em boas
escolas, ou até de estudar na "idade certa". É possível perceber, claramente, como muitas vem se
apropriando da escrita acadêmica. No começo, diziam que não iriam dar conta:
tinham que usar o computador, o AVA (ambiente virtual de aprendizagem),
escrever muito e com observância das normas gramaticais, saber conversar no AVA
(é mais difícil, não vemos a pessoa, a escrita tem que dar conta de passar a
mensagem). E hoje muitas dessas colegas vem se apropriando de um discurso
acadêmico que está cada vez mais elaborado, mais coerente e mais transformador
da realidade. É emocionante ver isso, ver o esforço dessas mulheres, donas de
casa, mães, como eu, que lutam para ter uma formação profissional. São pessoas
merecedoras de todo respeito e admiração. Mais uma vez a escrita acadêmica
cruza o meu caminho!
E, recentemente, tive outra oportunidade de pensar e dialogar sobre o letramento acadêmico. No semestre
passado (1º semestre de 2014), eu fiz dois cursos no Percurso Discente
Universitário - Giz/UFMG: Leitura e Escrita Acadêmica e Mapas Conceituais. Eu
adorei os cursos, nossa, Leitura e Escrita Acadêmica foi, claro, meu favorito.
Foi mais uma oportunidade de ter contato com o letramento acadêmico.
Depois de concluir os cursos, no final do 1º semestre de 2014 tive a oportunidade de participar de uma seleção para ser
tutora à distância nos cursos do Giz. Fui tutora na Oficina Leitura e Escrita
Acadêmica. Foi uma experiência gratificante, fiquei realmente muito feliz por
poder participar de uma Oficina com este tema. A turma foi excelente assim como
minha tutora de referência, Jacqueline Laranjo. Parece que combinamos tudo,
nossa forma de trabalhar é muito parecida, então foi uma experiência agradável,
nem vi o tempo passar. Estamos na última semana e eu já sinto saudades da
Oficina. Percebo, nesta reflexão, que a escrita acadêmica está presente também
nos meus valores: integridade, honestidade, comprometimento, trabalho. Tudo
isso está, de alguma forma, relacionado à uma escrita acadêmica bem feita.
A EaD também
proporcionou para mim outras vantagens. Uma delas foi fazer vários cursos sobre
o uso das Tecnologias da Informação e Comunicação e sua aplicação na Educação. Já
estou no terceiro módulo e neste semestre vamos aprender a editar vídeos. Da
mesma forma, concluí o curso “Gênero e Diversidade na Escola”, ofertado pelo
Nuh-UFMG em parceria com o Centro de Apoio à Educação à Distância – CAED/UFMG. Procuro,
sempre que possível, participar de atividades acadêmicas dentro e fora da
universidade. Faço cursos, participo de eventos, assisto a palestras[4]. Outra
vantagem que o curso à distância me ofereceu foi trabalhar enquanto minha
filha está na escola.
Atualmente trabalho na Escola da Serra, como auxiliar, e gosto muito da sua proposta pedagógica. O estágio na Escola da Serra tem sido desafiador: confesso que não tenho tempo para ler todos os textos técnicos a fim de sanar todas as inquietações que surgem durante o estágio. Pelo contrário, infelizmente, há muitas perguntas sem resposta por falta de tempo mesmo. A maior parte delas vem da sala de aula. Como trabalho com uma professora muito competente, as oportunidades que tenho para refletir sobre minha prática docente são diárias. Temos um diálogo aberto, onde as observações da professora contribuem para a minha formação na docência. Participo, também, de uma reunião semanal com a Supervisão Pedagógica e com o Núcleo de Psicologia. Nessas reuniões podemos conversar sobre embasamentos teóricos e sobre a prática pedagógica. Tem sido muito enriquecedor e, devido à proposta pedagógica da Escola, é preciso desenvolver um trabalho em equipe. Neste sentido, venho tendo também a oportunidade de trabalhar, uma vez por semana, com a professora de Arte e coordenadora da equipe de Artes (Artes Plásticas, Música, Teatro e Dança), o que tem sido ímpar para a minha formação. Dentro deste contexto, o estágio tem me provocado bastante pois sou convidada, quase que diariamente, a rever meus paradigmas. Não raro, fico muito angustiada porque não é fácil pensar e repensar valores, crenças e formas de agir. Mas a equipe é bem preparada e recebe estas dificuldades com profissionalismo, destacando sempre o caráter formativo do estágio.
Atualmente trabalho na Escola da Serra, como auxiliar, e gosto muito da sua proposta pedagógica. O estágio na Escola da Serra tem sido desafiador: confesso que não tenho tempo para ler todos os textos técnicos a fim de sanar todas as inquietações que surgem durante o estágio. Pelo contrário, infelizmente, há muitas perguntas sem resposta por falta de tempo mesmo. A maior parte delas vem da sala de aula. Como trabalho com uma professora muito competente, as oportunidades que tenho para refletir sobre minha prática docente são diárias. Temos um diálogo aberto, onde as observações da professora contribuem para a minha formação na docência. Participo, também, de uma reunião semanal com a Supervisão Pedagógica e com o Núcleo de Psicologia. Nessas reuniões podemos conversar sobre embasamentos teóricos e sobre a prática pedagógica. Tem sido muito enriquecedor e, devido à proposta pedagógica da Escola, é preciso desenvolver um trabalho em equipe. Neste sentido, venho tendo também a oportunidade de trabalhar, uma vez por semana, com a professora de Arte e coordenadora da equipe de Artes (Artes Plásticas, Música, Teatro e Dança), o que tem sido ímpar para a minha formação. Dentro deste contexto, o estágio tem me provocado bastante pois sou convidada, quase que diariamente, a rever meus paradigmas. Não raro, fico muito angustiada porque não é fácil pensar e repensar valores, crenças e formas de agir. Mas a equipe é bem preparada e recebe estas dificuldades com profissionalismo, destacando sempre o caráter formativo do estágio.
Assim, creio
que consegui mapear algumas atividades importantes, realizadas dentro e fora da
UFMG, que contribuem para meu percurso acadêmico
porque estão diretamente relacionadas com a formação e sucesso profissionais.
Já no quinto período do curso de Pedagogia, estou bastante preocupada com os rumos que vou dar para a minha carreira. São vários temas interessantes encontrados no decorrer da minha trajetória acadêmica: feminização do magistério, direitos humanos na escola, letramento acadêmico, gestão escolar e formação docente, só para citar alguns
Sobre a feminização do magistério, como mulher e professora em formação, percebo o quanto as questões de gênero afetam a nossa profissão e a nossa inserção na sociedade de forma geral.
Sobre direitos humanos (o que insere os estudos sobre gênero), acredito que sua abordagem na escola, a partir de intervenções pedagógicas — mais do que por imposição do Estado ou dos movimentos sociais — seja um dos grandes desafios atuais das profissionais da educação.
Sobre o letramento acadêmico, penso que se trata de um assunto propício para a pesquisa na Educação, desde a Ed. Básica (principalmente a partir dos Anos Finais do Ensino Fundamental) até os cursos de nível superior.
Sobre a feminização do magistério, como mulher e professora em formação, percebo o quanto as questões de gênero afetam a nossa profissão e a nossa inserção na sociedade de forma geral.
Sobre direitos humanos (o que insere os estudos sobre gênero), acredito que sua abordagem na escola, a partir de intervenções pedagógicas — mais do que por imposição do Estado ou dos movimentos sociais — seja um dos grandes desafios atuais das profissionais da educação.
Sobre o letramento acadêmico, penso que se trata de um assunto propício para a pesquisa na Educação, desde a Ed. Básica (principalmente a partir dos Anos Finais do Ensino Fundamental) até os cursos de nível superior.
Igualmente interessante é a Gestão Escolar. Em várias situações acadêmicas foi possível perceber que tenho um
perfil gestor, com facilidade para assumir a posição de liderança, além de gostar
da área. Já pensei em fazer um curso técnico em recursos humanos, algo que não abandonei por completo mas venho repensando esta formação complementar e sua real necessidade para trabalhar como gestora.
Por último, mas não menos importante (pelo contrário...), meu percurso universitário destaca a importância da qualidade da formação dos educadores e as possibilidades, propiciadas pelos cursos à distância, de acesso e permanência na Educação. Por isso, tenho interesse em atuar na formação docente e como professora de cursos EaD.
Tenho encontrado vários desafios neste percurso: como não é meu primeiro curso, há situações em que possuo mais conhecimento acadêmico do que outras colegas, então isso é uma diferença que marca minha trajetória atualmente e que é tanto positiva quanto negativa, dependendo do contexto; tenho pouco tempo para estudar; o curso de Pedagogia é desvalorizado e o salário dos professores é muito baixo[5]; a tutoria dos cursos EaD, em expansão, já se consolida sucateada, com contratos provisórios, sem direito a Piso Salarial Nacional (como no caso de professores de cursos presenciais), sem plano de carreira, etc. A única coisa que eu faço para lidar com estes desafios é aceitar as coisas que eu não posso mudar e tentar me organizar para melhorar as que eu posso mudar. Procuro sempre fazer o melhor que eu consigo e penso em direcionar meu curso para algo que eu tenha muito prazer em fazer, independentemente do trabalho que vai me dar. Percebo também a participação de mais mulheres do que homens na EaD, dentro de todo este contexto. Lembrando as palavras de Débora Diniz: “Não pense em seus sentimentos para daqui a vinte anos. Planeje o que conseguira executar neste momento com suas próprias palavras, seja responsável pelo que seus dedos conseguirão criar diante da tela à espera dos argumentos” (p. 86).[6]
Por último, mas não menos importante (pelo contrário...), meu percurso universitário destaca a importância da qualidade da formação dos educadores e as possibilidades, propiciadas pelos cursos à distância, de acesso e permanência na Educação. Por isso, tenho interesse em atuar na formação docente e como professora de cursos EaD.
Tenho encontrado vários desafios neste percurso: como não é meu primeiro curso, há situações em que possuo mais conhecimento acadêmico do que outras colegas, então isso é uma diferença que marca minha trajetória atualmente e que é tanto positiva quanto negativa, dependendo do contexto; tenho pouco tempo para estudar; o curso de Pedagogia é desvalorizado e o salário dos professores é muito baixo[5]; a tutoria dos cursos EaD, em expansão, já se consolida sucateada, com contratos provisórios, sem direito a Piso Salarial Nacional (como no caso de professores de cursos presenciais), sem plano de carreira, etc. A única coisa que eu faço para lidar com estes desafios é aceitar as coisas que eu não posso mudar e tentar me organizar para melhorar as que eu posso mudar. Procuro sempre fazer o melhor que eu consigo e penso em direcionar meu curso para algo que eu tenha muito prazer em fazer, independentemente do trabalho que vai me dar. Percebo também a participação de mais mulheres do que homens na EaD, dentro de todo este contexto. Lembrando as palavras de Débora Diniz: “Não pense em seus sentimentos para daqui a vinte anos. Planeje o que conseguira executar neste momento com suas próprias palavras, seja responsável pelo que seus dedos conseguirão criar diante da tela à espera dos argumentos” (p. 86).[6]
Cara leitora, se você chegou até aqui, o mínimo que posso fazer é
agradecer a sua atenção e paciência. Espero que você perceba, antes de mais
nada, a relevância desta metodologia, que é a escrita de um portfólio[7], para a recuperação e significação da trajetória acadêmica. Tive o
objetivo de ler estas experiências como formativas e intrínsecas à construção
da minha identidade.
[1]
Antropóloga, professora titular da Universidade de Brasília e pesquisadora da Anis - Instituto de Bioética Direitos Humanos e Gênero.
[2] “Professora
Sim, Tia Não”.
[3] Em
2006 a Escola de Engenharia ficava localizada no centro de Belo Horizonte, na
Av. dos Andradas.
[4]
Link para meu Currículo Lattes: http://buscatextual.cnpq.br/buscatextual/visualizacv.do?metodo=apresentar&id=K4218371T8
[5] Ao
compartilhar este texto com o querido Prof. Antônio Augusto, novamente obtive
uma orientação sua de grande valia: acompanhar o Plano Nacional de Educação e
suas 20 metas para os próximos 10 anos.
[6]
DINIZ, Débora. Carta de uma Orientadora: o
primeiro projeto de pesquisa. Brasília: Editora LetrasLivres, 2012. 108p.
[7] AMBRÓSIO, Márcia. O uso do portfólio no Ensino Superior. Petrópolis: Vozes, 2013. 183 p.
[7] AMBRÓSIO, Márcia. O uso do portfólio no Ensino Superior. Petrópolis: Vozes, 2013. 183 p.